Será que o glúten é mesmo ruim para você?

Olá pessoal!

De tempos em tempos surge um novo “vilão” da alimentação. A bola da vez é o glúten.

Os deliciosos pães viraram os piores vilões da humanidade de uma hora para outra? Será que isso é certo?

Uma das proteínas mais consumidas na terra, o glúten (que significa “cola” ou “grude” em latim) é formado quando duas famílias de proteínas (glutenina e gliadina) se ligam. Quando o padeiro amassa o seu pãozinho, a ligação entre ambas cria uma membrana elástica que é justamente o que dá textura e consistência para o pão e permite que o pizzaiolo se divirta jogando a massa de pizza para o ar. Agora vem a pergunta: como este componente presente no trigo, centeio e cevada, alimentos que fazem parte da dieta de tantas pessoas, tornou-se de uma hora para outra o inimigo número um da humanidade e é responsável por doenças que vão da esquizofrenia ao diabetes?

Existem muitas teorias, porém não há respostas claras e cientificamente satisfatórias para esta questão. Partindo do princípio que cada organismo possui suas características e particularidades, quando falamos de ser humano e nutrição não podemos generalizar.

Para pessoas com doença celíaca, que atinge cerca de 1% da população, alimentos que contêm glúten são verdadeiros venenos que podem prejudicar a saúde de maneira severa. O organismo delas não identifica o glúten e entende isso como uma ameaça para o corpo. Dessa forma, é desencadeada uma reação imunológica que danifica as estruturas do intestino delgado responsáveis pela absorção de micronutrientes como vitaminas, ferro, cálcio e macronutrientes como carboidratos e proteínas. Com essas estruturas comprometidas, não há absorção de nutrientes. Rejeitados pelo organismo, eles são eliminados nas fezes, o que leva a deficiências nutricionais importantes. Outros sintomas decorrentes desse desequilíbrio são diarreia crônica, vômitos e “inchaço” na região abdominal. Os celíacos não podem entrar em contato com o glúten de forma alguma: utilizar uma faca que encostou em um pão já pode causar um transtorno para uma pessoa portadora da doença.

Mas algo estranho está acontecendo claramente: por razões que permanecem desconhecidas, a incidência dos casos de doença aumentou mais de quatro vezes nos últimos 50 anos. A “culpada” poderia ser nossa microbiota intestinal, comprometida desde o nascimento da criança. Apesar da importância do aleitamento materno ser tão divulgada, a utilização de fórmulas prontas na alimentação de recém-nascidos poderia comprometer a flora intestinal e levar ao desenvolvimento de doenças e entre elas a doença celíaca.

Outra hipótese seria a qualidade dos alimentos que ingerimos hoje. O trigo está sob observação, afinal em todo o mundo são produzidas e consumidas quantidades absurdas deste alimento. Será que a qualidade do trigo teria piorado e seria este alimento o responsável pelo aumento dos casos de doença celíaca? Ele seria tóxico para nosso organismo? Outra teoria está pautada em nossa alimentação monótona. Você já percebeu que comemos quase a mesma coisa todos os dias? Entre os alimentos consumidos em nosso dia a dia, uma boa parcela leva glúten na composição, o que poderia fazer com que o organismo passasse a rejeitar este componente e inflamar como uma reação de proteção. A inflamação contribui para o ganho de peso e estaria aí a explicação para o emagrecimento de pessoas que retiram o glúten da dieta e não fazem muitas alterações na rotina alimentar. Todas as explicações são contundentes e fazem sentido, porém culpar algo pelo aparecimento e crescimento de TANTAS doenças é no mínimo simplista demais, não acham? Afinal, se o glúten prejudicasse a absorção de nutrientes de TODAS as pessoas, teríamos muitos casos de desnutrição no mundo todo.

 Há também uma parcela da população que não sofre de doença celíaca mas sente uma melhora significativa de condições como acne, insônia e enxaqueca (que muitas vezes não são relacionadas com o consumo de glúten) ao retirar o componente da alimentação. Essas pessoas não têm o intestino comprometido como na doença celíaca, mas alegam veementemente que “a vida mudou” após uma dieta livre de glúten. Estes casos recebem o nome de “sensibilidade ao glúten não-celíaca” e muitos estudos na área estão focados neste assunto para tentar descobrir qual seria a relação do tão falado glúten com tais condições. Nada comprovado até agora.

A realidade é que embora os padrões alimentares tenham mudado drasticamente em relação ao século passado, nossos genes não mudaram tanto assim. O corpo humano evoluiu, mas continua sem saber como lidar com tantos excessos e tantas substâncias químicas que encontramos hoje em nossa alimentação, muitas vezes sem ao menos saber. Refeições com grandes quantidades de açúcares mas poucos nutrientes são corriqueiras e levam nosso organismo ao seu limite. Seu corpo precisa reagir de alguma forma e para te alertar de que algo não vai bem começa a desenvolver uma série de doenças. Estas condições não aparecem do dia para a noite: você não se tornará diabético, por exemplo, por comer dois brigadeiros em uma festa. Isso acontecerá se você comer uma panela de brigadeiro todos os dias. Seu corpo não saberá como lidar com isso e vai reagir de alguma maneira.

O problema está mesmo no autodiagnostico. E tudo começa assim: “Minha amiga emagreceu muito tirando o glúten da dieta, então vou tirar também!”. Retirar o glúten da dieta por conta própria pode ser complicado, inconveniente e acaba saindo caro, por isso muitas pessoas não conseguem seguir uma dieta assim por longos períodos.

Muitas vezes as versões sem glúten de alimentos à base de trigo são mais calóricas e menos nutritivas e isso pode ficar claro ao dar uma olhada nos rótulos. Ingredientes como amido de arroz, amido de batata, amido de milho são utilizados para substituir a farinha integral, rica em fibras, vitaminas e minerais, enquanto os “amidos da vida” são altamente refinados e liberam açúcar rapidamente na corrente sanguínea, o que poderá se tornar um gatilho para desejos inesperados por doces. Ou seja, não é porque um alimento é sem glúten que ele será saudável ou bom para seu emagrecimento.

Além disso, dietas sem glúten também podem levar a deficiência de ferro, ácido fólico, tiamina, cálcio, zinco e vitamina B12. Por esse motivo, quando uma dieta sem glúten se faz necessária em um tratamento, deve ser feita com acompanhamento para garantir que não faltará nada para o seu organismo. Que fique claro: retirar o glúten da alimentação não é ruim, afinal você entra em contato com outros alimentos ao substituir pães, massas e doces por alternativas mais saudáveis como frutas e legumes, por exemplo. Mas ele não pode ser o culpado por todas as doenças da humanidade, já que quando falamos em SAÚDE precisamos levar fatores mais complexos em consideração.

Resumindo: o glúten pode te trazer problemas se você tiver doença celíaca ou algum tipo de intolerância especificamente a esse componente. Muitas pessoas confundem alergia ao trigo com intolerância ao glúten e acabam optando por uma dieta cheia de restrições sem necessidade. Outro caso são as pessoas que retiram o glúten da alimentação por opção mesmo, por se sentirem mais “leves” após a refeição e se isso te faz bem, não tem porquê trocar, certo? Por isso a melhor coisa que você tem a fazer é procurar um bom profissional para diagnosticar corretamente esta condição e assim, melhorar sua qualidade de vida para sempre antes de tomar qualquer atitude por conta própria.

Quando falamos em ALIMENTAÇÃO/NUTRIÇÃO, não podemos “condenar” os alimentos dessa maneira. Não há nada proibido ou errado. O que existe são organismos que “conversam” com os alimentos de maneiras distintas. Aprenda a “ouvir” o que seu corpo está dizendo… Dessa forma você não precisará “abrir mão” de nada em sua alimentação e aprenderá a se relacionar de maneira saudável com a comida. Porque vamos combinar: não há nada mais gostoso que um pãozinho quente com manteiga pela manhã …Hum!

Com amor e saúde,

Giovana Morbi 

5 Comentários

  1. por Paloma - 27 de março de 2015  1:04 Responder

    Excelente texto: claro, bem escrito, informativo e reflexivo sobre uma questão importante.
    Parabéns

  2. por Neuza - 25 de abril de 2015  9:45 Responder

    Gostei da explicação,faz sentido o que foi dito,digo escrito.Muito bom.

    • por giovana - 25 de abril de 2015  20:20 Responder

      Olá Neuza! Que bom que gostou... Fico feliz! Um beijão, Giovana Morbi ♥

  3. por Lú - 16 de julho de 2015  11:35 Responder

    Show! Quando criança (desde criança rs) minha barriga é grande rs, digo quando criança pois na época era bem magra e o abdomen estufado, será que tem a ver com o dito cujo rsrs... até troquei o leite integral pelo desnatato pois me sentia inchada ao tomar leite. Bjs

    • por giovana - 18 de julho de 2015  12:06 Responder

      Oii Lu,

      Em caso de dúvidas, procure um bom profissional e faça o exame para diagnosticar qualquer nível de intolerância ao glúten! Vale a pena! Beijão, Giovana Morbi

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