Café: é bom para saúde?

Hoje em dia a Nutrição assumiu um caráter um tanto quanto maniqueísta. Mas, o que seria “maniqueísmo” ?

Maniqueu foi um filósofo cristão do século III que dividiu o mundo de forma bem simples: o bom e o mal. O termo “maniqueísmo” se tornou popular e passou a ser um adjetivo para tudo que sofre essa divisão (drástica) entre dois aspectos opostos e incompatíveis.

Em minha humilde opinião, o modelo maniqueísta realmente não pode ser aplicado à ciência da Nutrição por ser simplista demais. Como categorizar os alimentos entre “bons” e “ruins” quando se há tantas VARIÁVEIS?

Um dos alimentos que passou (e passa) por uma discussão maniqueísta é o café: ele faz bem ou mal à saúde?

A resposta: depende. Depende de como o SEU organismo vai reagir às substâncias presentes na composição desse alimento e da QUANTIDADE ingerida por dia. Vamos ver qual o seu caso…

E olha, posso afirmar que depende MESMO. Em minha prática clínica já vi de tudo: desde a pessoa que toma 20 cafés por dia até a que não toma nenhum, nunca tomou e não sente a mínima falta. É tudo uma questão de hábito. Eu, por exemplo, cresci com o cheiro do café invadindo meu quarto as 5 da manhã todos os dias (minha mãe sempre acordou ABSURDAMENTE CEDO, até nos finais de semana). Quando adolescente eu não apreciava café, apenas com leite (esse eu não dispensava MESMO). Depois de adulta, passei a toma-lo puro e viciei. Hoje em dia não começo o dia sem meu café e sinto falta se não tomo. Isso se intensificou depois que casei e sai de casa. Aquele cheiro lembrava a casa da minha mãe e com ele vinha a sensação de aconchego e uma grande alegria por começar o dia. Os cheiros e sabores realmente têm um grande poder em nosso estado emocional, por isso quando mexemos em nossa alimentação tantas coisas mudam em nossa vida.

Segundo pesquisas divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o brasileiro toma de 4 a 5 xícaras de café todos os dias, o que faz dele um dos alimentos mais consumidos no país. Os que cultivam o hábito de tomar um bom cafezinho podem desfrutar de seus benefícios a saúde graças às substâncias presentes em sua composição. Entre elas está a cafeína.

A CAFEÍNA FAZ TÃO MAL ASSIM?

A cafeína é uma substância com um incrível poder estimulante. É ela que te faz ficar em estado de alerta e agitadão (ou agitadona) quando o dia começa. Ela não é um problema para a maioria das pessoas, pelo contrário. Dependendo da pessoa, a cafeína pode fazer muito bem em quantidades moderadas e na hora certa.

O problema é que muitos consomem quantidades absurdas da substância por dia (não apenas no café, mas também em refrigerantes, chás , chocolates…) e isso pode ter um impacto negativo na saúde.

O consumo de cafeína aumenta o metabolismo, regulado pela nossa amiga tireoide. Portanto, se uma pessoa bebe muito café ou refrigerantes a base de cafeína diariamente, provavelmente isso afetará todo o funcionamento do corpo. Isso pode até parecer bom para pessoas com hipotireoidismo, mas nem sempre é o caso.

Consumir quantidades absurdas de cafeína diariamente afeta as glândulas adrenais. Quando você bebe uma xícara de café ou um copo de refrigerante o seu corpo produz adrenalina. Nós só produzimos essa substância quando há uma situação de luta ou fuga (ou algo extremamente excitante, como um encontro com o novo amor, por exemplo), mas produzir adrenalina quando se está sentado na frente de um computador ou estudando para a prova pode não ser muito agradável e gerar angústia. Como eu disse no início, tudo depende da quantidade que você tomar e de como seu corpo reagirá a isso.

Ou seja, toda a vez que você tomar café, chá ou refrigerante a base de cola, suas glândulas suprarrenais vão produzir hormônios que vão te deixar ligadão ou ligadona. O problema é que você se acostuma com a sensação e precisa de doses cada vez maiores para garantir os efeitos que deseja.

Então é o seguinte, pessoal: não adianta segurar no café e se jogar no refrigerante a base de cola, no chá preto ou no chá-mate, hein? Tudo isso tem cafeína. O chocolate também tem, mas bem menos que essas bebidas citadas. De qualquer forma, no final do dia vai somar tudo e pode ser que aí esteja o “problema”: cafés diários + refrigerante com cola + chocolates + chá = excesso de cafeína no final do dia.

SINTOMAS DO EXCESSO DE CAFEÍNA

A cafeína atua principalmente no cérebro, onde afeta a função de alguns neurotransmissores e cria o efeito estimulante. Se você beber MUITO café ou consumir cafeína em excesso, sentirá seus efeitos.

Esses são alguns dos sintomas comuns relacionados com o excesso de cafeína:

  • Inquietação
  • Ansiedade
  • Tontura
  • Desconforto no estomago
  • Irritabilidade
  • Insônia
  • Batimentos cardíacos acelerados
  • Tremores

Se você sentiu algum desses sintomas logo depois de tomar café, pode ser que seja sensível a cafeína e precise reduzir a dose. Aliás, esse é o próximo tópico.

SENSIBILIDADE À CAFEÍNA: QUAL A SUA?

A cafeína terá efeitos diferentes de acordo com o organismo de cada um. Isso tem muito a ver com a quantidade de enzimas hepáticas e com a sensibilidade dos receptores de cafeína no cérebro. Os seus efeitos também são determinados pela genética. Investigadores descobriram um determinado “gene que reduz a velocidade do metabolismo”, sendo que pessoas que possuem este gene eliminam a cafeína mais lentamente. Um estudo recente demostrou que, nos indivíduos com esta característica, o consumo de café estaria associado ao aumento do risco de infarto do miocárdio não mortal, sugerindo que a cafeína poderia desempenhar um papel nessa associação.

Em meu consultório faço o teste genético para detectar a sensibilidade à cafeína dos pacientes submetidos ao exame e assim, prevenimos o desenvolvimento de doenças associadas naqueles que são sensíveis a ação dessa substância.

Ou seja, dependendo da sua genética você pode tolerar muita ou pouca cafeína. Também é necessário ter em mente que várias condições médicas podem afetar à sensibilidade à cafeína. Se você é uma pessoa ansiosa, tem síndrome do pânico, arritmia cardíaca ou pressão alta, é possível que tenha uma tolerância mais baixa. Agora, uma coisa é fato: pessoas que tomam café com frequência apresentam maior tolerância que aqueles que bebem esporadicamente.

DEPOIMENTO DO LEITOR

“Bom dia Giovana Morbi,eu tomava cafe de manha e algumas vezes ao dia,era de pouquinho mas tomava,tive muita taquicardia e arritimia, vivia nervosa e resolvi parar com o cafe. Sumiram todos os sintomas e agora estou muito bem,eu tinha ate medo, depressao , vivia chorando e tudo acabou ,graças a Deus. Fazem nove meses que parei com o cafe.Desde criança os medicos me falavam para parar agora consegui.Cafe é muito delicia,mas pra mim nao da.bjus linda”. MIRTES BROGNA – no facebook.

COMENTÁRIO DA GIOVANA: a Mirtes provavelmente é MUITO sensível a cafeína. Se você aprecia o sabor da bebida e não quer abandona-la mas tem esses sintomas ao consumi-la, tente trocar pela versão descafeinada.

 

O EXCESSO DE CAFEÍNA E O RISCO DE OSTEOPOROSE

Ao consumir muita cafeína durante o seu dia, você também corre o risco de desenvolver osteoporose, já que ela provoca a excreção urinária de cálcio.

A CAFEÍNA E REMÉDIOS PARA TIREOIDE

Hoje em dia, muitas pessoas (principalmente mulheres) sofrem de hipotireoidismo e tomam a levotiroxina sódica. O excesso de cafeína na dieta pode afetar os hormônios da glândula e a absorção da medicação que trata o problema. Alguns estudos concluíram que beber café pouco tempo depois de tomar o hormônio sintético pode interferir na absorção do medicamento. Porém, não há consenso sobre isso AINDA. O melhor que tem a fazer é tomar o seu remédio, dar o tempo certo antes de tomar o café e moderar na cafeína.

MAS QUAL A QUANTIDADE RECOMENDADA?

A quantidade de cafeína pode variar muito de acordo com o tamanho da xícara de café. Uma xícara pequena tem por volta de 50mg de cafeína. Uma média tem cerca de 100 mg de cafeína. Muitas fontes sugerem que o consumo seguro de cafeína por dia seria de até 400 mg, ou seja, até 4 xícaras médias de café por dia. Para idosos e crianças, essa quantidade é reduzida pela metade: 2 xícaras médias ao dia.

Durante a gestação a metabolização da cafeína é mais lenta, por isso recomenda-se moderação no consumo da substância nesse período: até 300 mg/dia.

Pessoas com pressão alta, problemas estomacais, como gastrite e refluxo ou problemas de insônia também devem limitar o consumo para 300 mg por dia (até 3 xícaras médias), já que acima disso podem ter sintomas desagradáveis.

Quantidades superiores a 2.000 mg ao dia podem causar insônia, tremores, respiração agitada e até a um ataque cardíaco, caso a pessoa tenha predisposição a isso. Por isso, mais que se preocupar com o café, tenha em mente que termogênicos e bebidas energéticas podem ser um perigo a saúde de muitas pessoas que consomem esse tipo de produto sem orientação.

QUEM PRECISA SE PREOCUPAR MAIS EM LIMITAR A CAFEÍNA?

 A cafeína, além de estimular a liberação da adrenalina, também faz com que a pressão arterial aumente. Por isso, pessoas com pressão alta precisam dar atenção a isso e limitar o consumo.

Com a liberação de adrenalina, os batimentos cardíacos aumentam e ficamos mais “acelerados”. Pessoas muito ansiosas, agitadas demais ou que têm ou tiveram síndrome do pânico também devem moderar a ingestão de bebidas e alimentos ricos em cafeína.

Pessoas com problemas gástricos devem ficar atentas, pois o café aumenta a produção de ácidos no estômago e pode irritar toda a mucosa, certo?

DEPOIMENTO DO LEITOR

“Gi desde criança tomava de manhã e a tarde com leite… com o tempo passei a usar sempre o desnatado (o adoçante desde adolescente) e puro as vezes, com o trabalho acabava tomando vários copinhos. Mas Gi como te disse, cortei por conta do estômago e estou sentindo bastante diferença na minha ansiedade e temperamento. Pode ser por conta do café mesmo? LU FIGUEIREDO

COMENTÁRIO DA GIOVANA: com certeza, Lu!

COMO SUPERAR MINHA DEPENDÊNCIA DE CAFEÍNA

Será que é preciso abandonar o café de vez? Não, mas pessoas com glândulas supra-renais muito comprometidas e diagnosticadas com fadiga adrenal devem evitar o consumo por pelo menos um período.

Mas como alguém viciado em cafeína poderia superar isso? Olha, cortar isso de vez da alimentação não é fácil e é preciso querer para mudar. O período de abstinência não é fácil mesmo, mas o resultado pode ser compensador. Se depois de ler essa matéria você acha que precisa se policiar mais, diminua gradativamente o consumo e não de uma hora para outra, o que pode te deixar mal.

Então se toma 10 xícaras, na próxima semana tome 9 e assim por diante. Essa estratégia leva mais tempo, porém o sucesso é mais garantido do que com o corte drástico. Só você sabe o que funcionara melhor no seu caso.

ADOÇAR OU NÃO, EIS A QUESTÃO!

O recomendado é não adicionar açúcar na bebida, afinal de café em café você pode aumentar o peso pelo açúcar sem ao menos perceber. Porém, se você tem o costume de adoçar o café, tente reduzir a quantidade de açúcar que coloca. Se você usa adoçante e quer saber o melhor tipo, aguarde o post da segunda-feira!

MAS AFINAL, QUAIS OS BENEFÍCIOS DO CAFÉ?

Agora chega de falar da cafeína. Quero falar mesmo é do café!

Muitos estudos relacionam o consumo dessa bebida DELICIOSA com a redução dos riscos de várias doenças. Aqui está o resumo das descobertas mais interessantes que associam o café com a prevenção de doenças:

DIABETES – Quanto mais café as pessoas consomem, menor o risco de diabetes tipo 2. Um estudo encontrou um decréscimo do risco de se desenvolver a doença por cada xícara consumida.

CIRROSE HEPÁTICA – Beber 4 xícaras por dia reduziu o risco em 80% de cirrose hepática.

CÂNCER DE FÍGADO – O risco de câncer de fígado ficou 44% menor com o consumo de 2 xícaras de café ao dia.

ALZHEIMER – Um outro estudo descobriu que o consumo de 3 a 5 xícaras por dia reduziu o risco de Alzheimer em 65%.

PARKINSON – A maior redução do risco da doença de Parkinson acontece com um consumo superior a 5 xícaras diárias.

DEPRESSÃO – Estudos mostram que o consumo de 4 xícaras diárias de café está associado a redução do risco de depressão em 20% e uma diminuição do risco de suicídio em 50%.

Com essas informações podemos concluir que tomar de 4 a 5 xícaras pequenas de café por dia pode trazer muitos benefícios à saúde. Isso se dá pelas substâncias antioxidantes encontradas no café, tanto no normal como no descafeinado.

ATENÇÃO NO PREPARO

A forma que você prepara seu café também fará a diferença na saúde. Há dois elementos no grão do café que podem elevar o colesterol sanguíneo. Mas pode ficar tranquilo (a)… A água quente e o filtro de papel removem essas substâncias, algo que o coador de pano não faz. Por isso, ferva bem a água e use o filtro de papel que está tudo certo.

RESUMINDO TUDO…

  • Beber e comer alimentos ricos em cafeína todos os dias e em grandes quantidades pode ter um impacto negativo na saúde.
  • O café é uma bebida saudável se você consumir até 5 xícaras por dia, mas a tolerância varia de pessoa para pessoa.
  • Refrigerantes ricos em cola devem ser evitados muito mais que café, pois são lotados de açúcar e não proporcionam NENHUM benefício a saúde.

Espero que esse post tenha te ajudado!

Com amor e saúde,

Giovana Morbi

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.