Quando comer de forma saudável vira uma obsessão

Olá pessoal!

É muito difícil falar em saúde física sem citar nossa saúde mental. Mente e corpo estão unidos, e isso está mais que provado. Excluir um ou outro quando se fala de um SER HUMANO, torna uma análise pobre e simplista demais. Eu sempre digo que somos bombardeados de informações o tempo todo. Esta quantidade de informação pode nos levar a diversos sentimentos: ver uma pessoa aparentemente feliz nas redes sociais, dizendo que fez isso, fez aquilo, que não come isso ou aquilo, pode despertar angústia, frustração, tristeza e distúrbios no comportamento. Basta ler um pouco os comentários das fotos de “celebridades” (principalmente quando estão de biquíni) para ver o nível de insatisfação que as pessoas vivem com elas mesmas.

Sinceramente, não é à toa que isso acontece: “Não coma isso!”, “Glúten faz mal”, “Lactose é veneno”, “ovo não é saudável”, “manteiga não é saudável”, “agora é a vez da carne” … Assim fica difícil comer! Informar é uma coisa, agora apavorar é outra completamente diferente. E é assim que sinto as pessoas em meio a tantas informações desencontradas sobre nutrição… APAVORADAS com algo que deveria ser tão simples! O ato de comer é o mais primitivo que existe. TODOS precisamos comer DESDE SEMPRE, senão nossa espécie nem estaria mais aqui. Mas algo aconteceu no meio do caminho.

Vou contar um caso para vocês que presenciei para ilustrar o assunto que quero tratar no post de hoje. Conheci Beatriz (nome fictício) por meio de uma amiga e quando soube que eu era nutricionista logo veio contar sua história. Ela me disse que há alguns anos sofreu com dores abdominais, problemas de digestão e náuseas. No desespero, procurou ajuda no Google e começou a pesquisar o que precisaria tirar da alimentação para se sentir melhor (temos aqui o primeiro erro: autodiagnostico).

Depois de ler sobre a lactose, cortou o leite, queijo e iogurtes de sua dieta. Sentiu melhora e por isso, não parou por aí. Convencida de que poderia “desintoxicar” ainda mais seu corpo, pesquisou sobre outros alimentos associados com problemas de saúde e em alguns meses eliminou glúten, grãos, carne, frutas e vegetais ricos em qualquer tipo de amido. Ou seja, sua alimentação ficou BEM restrita.

O que começou como um genuíno interesse em se tornar mais saudável, evoluiu rapidamente para uma obsessão. A Bia já não saia com os amigos, já não comia mais em seu restaurante favorito com medo da quantidade de sal, da qualidade dos ingredientes e da quantidade de óleo que poderiam usar para fazer sua comida. Ela passou a se isolar, e sua única diversão era encontrar com as pessoas na academia.

Beatriz sentia muita ansiedade no momento da refeição e ficava atenta para qualquer reação estranha que sentisse ao comer algo fora do “esquema” que tinha em mente. Ela mesma relata que “comer fora era uma tortura, já que não conseguia CONTROLAR a forma que o alimento era preparado, se era orgânico, se o frango era criado em cativeiro ou gaiola, se tinham adicionado açúcar no molho, se tinha glúten, etc.”. Concordo que deva ser uma tortura mesmo, afinal precisamos comer para sobreviver e se este ato se torna complicado, a VIDA FICA COMPLICADA.

Em busca da procura frenética pela “PUREZA ALIMENTAR” que ela mesma criou em sua mente, a Bia foi emagrecendo cada vez mais e já não apresentava uma aparência tão saudável (o que prova que magreza não é sinal de saúde, ela estava desnutrida).

Quando a questionavam sobre sua saúde, ela dizia que nunca havia se sentido tão bem (ela queria se convencer disso, mas era visível que algo não ia bem)! Estava certa de que estava no caminho certo e julgava quem não tinha uma alimentação parecida com a dela, dizendo que certamente ela viveria muito mais e melhor do que os pobres mortais comedores de manteiga. Será?

Só que um dia marcou a vida da Bia. Ao andar pela rua, haviam duas meninas atrás dela que riam. Infelizmente ela escutou o que diziam: “Nossa, que caveira. Acha que está bonita, coitada.”. E mais risadas. Ao ouvir isso, Bia começou a chorar copiosamente enquanto caminhava até sua casa e percebeu que comer bem estava tomando tempo demais de sua vida. Ela já não saia com amigos, não tinha um namorado, não estava se dedicando ao trabalho como deveria, afinal dormia e acordava pensando na qualidade do que ia comer e nos exercícios que deveria fazer. Cansou de viver assim. Ligou para sua irmã no mesmo dia e disse: “Me ajuda, acho que estou com um distúrbio alimentar”.

 Você pode pensar em anorexia ou bulimia nervosa, mas esse distúrbio recebe um outro nome: ortorexia nervosa, quando se alimentar bem se torna uma obsessão.

Neste caso, diferente da anorexia nervosa, a pessoa não deixa de comer. Ela come, mas fica excessivamente preocupada com O QUE come. Sua dieta se torna tão restrita que pode levar a muitos problemas de saúde como deficiências nutricionais importantes e distúrbios psicológicos.

Você comer bem, de forma saudável é EXCELENTE. Mostra sua preocupação e amor com o próprio corpo. Os veganos, por exemplo, que não comem NENHUM alimento de origem animal (até mesmo o mel está fora da dieta de veganos) lutam para manterem a dieta. Não é nada fácil ser vegano e exige muita dedicação. Isso quer dizer que um vegano tem ortorexia? NÃO! A ortorexia atrapalha todos os campos da sua vida, já que é um comportamento extremo. Uma pessoa que opta por uma dieta vegana simplesmente acredita em uma filosofia de vida e todos devem respeitar suas escolhas. Porém, quando isso deixa de fazer a pessoa feliz e a torna escrava de um padrão, já pode ser considerado um distúrbio alimentar, pois ameaça à saúde física e mental da pessoa.

A ortorexia nervosa não é um transtorno reconhecido, mas anda preocupando profissionais da saúde. Começa de forma inocente e sorrateira, já que não há mal nenhum em cuidar melhor do corpo e alimentação. Como este é um argumento bem fácil, o distúrbio passa despercebido por longos períodos até se tornar perigoso para saúde e prejudicar atividades, interesses e relações.

Por que uma pessoa desenvolve ortorexia?

Inicialmente a ortorexia é motivada pela busca de saúde. Ao entrar em contato com esse “novo mundo”, ela passa a controlar suas escolhas alimentares, na tentativa de se sentir mais no CONTROLE de sua vida. Uma visão ilusória da realidade, afinal você só conseguirá controlar sua vida ao controlar SUA MENTE e não os alimentos que consome. Também acaba funcionando como uma fuga, uma tentativa de melhorar a auto-estima ou uma busca pela espiritualidade por meio da utilização dos alimentos, para criar uma identidade. A pessoa está tão perdida em relação a algo em sua vida, que busca um caminho mais firme, uma identidade por meio da alimentação.

A sociedade coloca como padrão que para você ser feliz, bem sucedido e “invejado” precisa comer bem e ser magro, por isso ser diagnosticado com ortorexia pode ser complicado, já que muitos enxergam o comportamento compulsivo pela alimentação saudável e magreza como algo saudável. Primeiro você deve parar para analisar algumas questões:

✶ Você perde bons momentos da vida por causa de sua alimentação?

✶ Quando vai a um restaurante, fica excessivamente preocupado (a) com a procedência dos alimentos?

✶ Você se sente muito culpado (a) quando se desvia da dieta que criou em sua cabeça?

✶ Você notou se abriu mão de uma ida ao cinema ou restaurante por conta da comida?

✶ Você se coloca em “um pedestal nutricional” e julga o comportamento alimentar de outras pessoas por achar que sua dieta é perfeita?

Se você se identificou com até duas perguntas, procure ajuda psicológica ou tente identificar se há algo errado acontecendo.

Pessoal, grande parte das pessoas vive nesta agonia de desejar algo e não conseguir por começar a frase justamente com essa palavra: NÃO consigo. O “NÃO” já barra todas suas ações… O cérebro já entende que você realmente não fará nada disso. Isso gera frustração e perda da própria confiança. Para recuperar o controle da situação, muitas pessoas vão do 8 ao 80 e passam a escolher demais os alimentos.

Isso também não é uma atitude saudável, pois a partir do momento que se torna uma obsessão em sua vida, começa a atrapalhar tudo! Quando eu digo para comer com saúde e qualidade não estou dizendo para você comer apenas legumes, frutas e verduras orgânicas… Você pode até optar por comer poucas coisas, desde que isso não afete sua saúde mental e física, certo?

Coma com prazer e consciência! Assim você garante uma vida cheia de sabor e bons momentos…

Com amor e saúde,

Giovana Morbi  

7 Comentários

  1. por Rita - 3 de março de 2015  10:04 Responder

    Giovana,
    Bom dia! Hoje tive a grata surpresa de me deparar com seu site, quando procurava informações sobre a couve, que uso no suco verde. ADOREI!!! Estou trabalhando para me reeducar ao me alimentar, pois tive que fazer um tratamento sério para endometriose e sai de meus 54 quilos par os 96... Não é fácil emagrecer depois que a gente perde o pique e a auto estima... Mas seu blog me trouxe novas informações e, mais do que isso, me deu uma animada legal!! Vou seguir sempre! Obrigada!!! Você está sendo responsável (sem mentiras) por me ajudar a ter forças para ser saudável outra vez!!

    • por giovana - 4 de março de 2015  11:03 Responder

      Rita, você não imagina como me deixa FELIZ com sua mensagem. Fiquei emocionada DE VERDADE! Que bom que estou te ajudando na busca de uma vida saudável... Conte comigo minha linda! Um beijo enorme!

  2. por Shirley Marchetti - 22 de maio de 2015  9:33 Responder

    Giovana, poderia por gentileza passar a receita do chá de gengibre.

    Obrigada

    • por giovana - 25 de maio de 2015  16:05 Responder

      Passo sim minha linda! Vou passar em um post ou em minha página no face. Mas é bem simples linda... Só ferver um pedaço do gengibre (nem precisa ser grande o pedaço... Uns 2 cm são suficientes). Aí você pode acrescentar pau de canela, suco de um limão e um pouco de mel para dar um sabor gostoso. Pronto! Espero que te ajude! Um beijão, Giovana Morbi

  3. por Luciana - 18 de julho de 2015  20:41 Responder

    Flor, é quando é o contrário, a pessoa pensa em comida o tempo todo, se vai sair com os amigos pensa se vai ter comida, tudo gira em torno de "comer", tem nome isso?

    • por giovana - 22 de julho de 2015  18:27 Responder

      Oi Lu!

      Qualquer relação "estranha" com a comida pode ser considerado um distúrbio alimentar. Nesse exemplo você quer dizer pessoas que evitam a comida ou só pensam nisso?

  4. por lu - 23 de julho de 2015  11:28 Responder

    Que só pensa nisso rs

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